Para alguns crentes só restam uma de duas alternativas: se confessar calvinistas ou arminianos. Aparentemente é muito importante decidir por um conjunto de idéias teológicas ou outro e a imposição, a supremacia de um sobre outro se torna uma obsessão e a mais importante defesa da fé a ser feita pelo cristão autêntico. Na minha opinião não o é, definitivamente. Tudo quanto João Calvino pensou encontrar na sua experiência única ou Jacobus Armenius, seu discípulo que fez uma revisão, reposicionamento das crenças de seu mestre, se corretas podem ser redescobertas e reconhecidas por qualquer um no tempo de hoje. Com devido respeito a suas figuras e herança, são apenas ilustres defuntos, homens de Deus que serão ressuscitados um dia, mas Jesus o nosso Senhor está vivo hoje.
Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo - Prefácio
Laurence M. Vance - O Outro Lado do Calvinismo
PREFÁCIO
As especulações filosóficas do Calvinismo, embora tenham sido debatidas por centenas de anos, vêm se disfarçando de sã doutrina bíblica por muito tempo. As implicações teológicas resultantes, sob o pretexto da ortodoxia, têm sido a influência dominante em todos os aspectos da teologia. Elas têm sido aceitas como oficiais, mas somente em detrimento das Escrituras. O tema Calvinismo tem também sido ferozmente debatido desde a época da Reforma mais do que qualquer outro assunto. Ao contrário do batismo, que foi o principal objeto de discórdia entre os batistas e outros grupos, a amarga controvérsia sobre o Calvinismo tem infectado todas as várias denominações em todas as épocas. Esta influência é parte do outro lado do calvinismo.
Então porque mais uma obra sobre o Calvinismo? Ainda que exista muito material sobre o assunto, a esmagadora maioria é do ponto de vista reformado, que é inerentemente calvinista. A contribuição batista para o debate vem principalmente dos grupos calvinistas. Isto deixa um vazio definido quando se trata de um tratamento balanceado da questão. O resultado é uma apresentação desproporcional e intimidadora de um lado que é então equacionado com a ortodoxia. Então, principalmente por causa do absoluto volume de aparato de apoio apenas, o Calvinismo tem se estabelecido na teologia. Este é um outro aspecto do outro lado do Calvinismo.
O fluxo de livros atualmente disponível em defesa do Calvinismo parece ser sem fim. E, embora foi declarado há um século por um teólogo calvinista que “muito mais tem sido publicado” em oposição do que em defesa do Calvinismo,[1] tal não é certamente o caso agora. Considerando o material publicado em oposição ao sistema calvinista, se em todo ou em parte, três tipos podem ser distinguidos. A maioria da literatura disponível consiste de pequenos folhetos que são inerentemente limitados em sua eficácia.[2] Há também alguns pequenos livros disponíveis de uma variedade de pontos de vista que fornecem algumas informações úteis.[3] Sobre o que poderiam ser denominados os principais livros contra o Calvinismo, há atualmente muito pouco.[4] Existe ainda a necessidade de uma obra definitiva que aborde e suficientemente responda a todas as especulações filosóficas e implicações teológicas do outro lado do Calvinismo.
Uma carência de obras contra o Calvinismo não é uma razão adequada para começar uma obra desta magnitude, a menos que haja uma importante causa subjacente. O evidente ponto determinante é a natureza tremendamente prejudicial do sistema calvinista. As doutrinas do Calvinismo, se realmente acreditada e consistentemente praticada, são danosas ao evangelismo, à salvação das almas, à oração, à pregação, e ao Cristianismo prático em geral. Isto é até involuntariamente admitido por um batista calvinista: “As doutrinas ensinadas na Bíblia relativas à soberania de Deus, referidas nos círculos religiosos como ‘Calvinismo,’ também como ‘as doutrinas da graça,’ são as doutrinas da Bíblia que são a ocasião para muitas pessoas ‘se asfixiarem’ na Palavra. O mal uso e o abuso destas doutrinas irão enfraquecer e matar.”[5] O Calvinismo é por essa razão a maior heresia “cristã” que já contaminou a Igreja. Sendo este o caso, a tese deste livro é que o Calvinismo não é somente a doutrina reformada, e por conseguinte algo que os batistas não deveriam estar envolvidos, mas que é uma doutrina errada. Mas por causa de sua natureza controversa, existe uma tremenda ignorância da real natureza do Calvinismo. Algumas escolas consideram o assunto tão controverso que elas até proíbem a discussão do assunto.[6] A longa e diversa influência do Calvinismo em todas as áreas da teologia exige esta análise do outro lado do Calvinismo.
Por causa de sua tese fundamental, este livro não foi escrito sob uma perspectiva neutra. Assim como todo livro escrito por um calvinista. Um dos autores calvinistas mais populares, Loraine Boettner, em seu livro sobre o Calvinismo, inicia assim: “O propósito deste livro é mostrar que o Calvinismo é, sem sombra de dúvida, o ensinamento da Bíblia e da razão.”[7] Deixe-me inequivocadamente afirmar que o propósito deste livro é mostrar que o Calvinismo, sem sombra de dúvida, não é o ensinamento da Bíblia nem da razão. Um calvinista audazmente proclama: “A perspectiva da qual eu tenho escrito é decididamente calvinista. Isso não é uma apologia. É um alerta. Eu quero que o leitor saiba desde o começo o que eu espero concluir. Eu escrevi de forma metódica.”[8] Mas se os calvinistas podem escrever com o expresso propósito de defender seus pontos de vista, então é razoável que seus críticos possam dispor deste mesmo privilégio também. Um outro calvinista diz: “É nossa esperança que o material contido nesta pesquisa venha ajudar a promover a difusão do Calvinismo e que muitos sejam levados a compreender, acreditar, e propagar este sistema de doutrina bíblico.”[9] Mas, ao contrário, é minha esperança que o material contido nesta pesquisa venha ajudar a prevenir a difusão do Calvinismo e que muitos sejam levados a entender, não acreditar, e cessar de propagar este sistema de doutrina anti-bíblico. Ainda um outro calvinista afirma que seu livro foi “escrito na esperança de que muito do abuso que é lançado contra o sistema de teologia calvinista seja removido.”[10] Mas, novamente, este livro foi escrito na esperança de que muito do abuso que é lançado contra o sistema de teologia calvinista seja mantido. E finalmente, um outro calvinista declara: “O propósito desta monografia não é atacar homens pessoalmente. Antes, é proteger a igreja das doutrinas heréticas dos ensinos anti-calvinistas.”[11] Da mesma forma, o propósito desta monografia não é atacar homens pessoalmente. Antes, é proteger a igreja das doutrinas heréticas dos ensinos calvinistas. Assim, embora um calvinista mantenha que “a negação do Calvinismo é um erro muito grave,”[12] será mantido por todo esta obra que a aceitação do Calvinismo é um erro muito grave. Esta perspectiva é necessária a fim de apresentar o outro lado do Calvinismo.
A primeira e única fonte, assim como a autoridade final para tudo dito nesta obra, é obviamente a Bíblia Sagrada. Não somente a Bíblia será usada para responder as especulações filosóficas e implicações teológicas do Calvinismo, mas será acreditada do jeito que foi escrita. E como elas formam uma parte tão intrínseca do livro, a maioria das citações escriturísticas será dada por completo. Como esta obra é uma defesa bíblica, a ênfase recairá sobre o que a Bíblia na verdade diz, e não sobre o que tem sido comumente interpretado que Ela ensina. “A palavra de Deus não está presa” (2Ti 2.9) pelas opiniões dos Pais da Igreja, comentaristas, acadêmicos, credos, confissões, ou qualquer opinião de quem quer que seja ou algum sistema de interpretação. Como apenas a Escritura é infalível, ela é totalmente capaz de corrigir ambos, escritor e leitor, assim como as especulações filosóficas e as implicações teológicas do outro lado do Calvinismo.
A estrutura do livro é bem direta e está naturalmente dividida em duas partes: um exame histórico e uma análise bíblica. A origem, desenvolvimento, e alegações do Calvinismo, assim como seu homônimo e principal antagonista, serão investigados à luz da história. Uma vez que essa base essencial seja colocada, as reais doutrinas do Calvinismo serão examinadas, ambas doutrinária e teologicamente, e analisadas à luz das Escrituras comparando Escritura com Escritura. Por causa deste formato lógico, uma disparidade no conteúdo existirá entre as duas partes assim como os capítulos individuais. Mas este é um mal necessário a fim de preservar a unidade de cada assunto e trazer à tona o mal ainda maior contido no outro lado do Calvinismo.
O formato do livro é exatamente como os calvinistas têm desejado. Um calvinista diz: “É hora de abrirmos os nossos corações e mentes para uma honesta avaliação de Calvino e do Calvinismo.”[13] Exatamente. E o único jeito de fazer uma honesta avaliação de Calvino e do Calvinismo é, pelas palavras de um outro calvinista, “deixe o Calvinismo falar por si mesmo.”[14] Por isso, a reunião das declarações de não-calvinistas contra o Calvinismo como prova de que o Calvinismo é falso não será encontrada neste livro. A fim de deixar o Calvinismo falar por si mesmo, o procedimento a ser seguido será simples, o mesmo empregado pelos próprios calvinistas. Justamente como um calvinista diz que ele tem citado seus oponentes “de forma completa para que não haja confusão sobre o que eles acreditam,”[15] assim os próprios calvinistas serão extensiva e ecleticamente citados para que não haja nenhuma confusão sobre o que eles acreditam. Isto é tanto para prevenir o clamor de má representação quanto para demonstrar as numerosas contradições que existem entre os próprios calvinistas. Tudo que pode ser possivelmente danoso ao Calvinismo será documentado de fontes calvinistas ou neutras. Todas as citações, incluindo o uso de negrito, itálico e maiúsculas, assim como a ortografia, gramática, e pontuação, aparecerão exatamente como na fonte original. A bibliografia é limitada às obras citadas ou mencionadas e não inclui todas as obras consultadas neste exame do outro lado do Calvinismo.
Leitores da primeira edição deste livro (originalmente publicado em 1991) notarão que o mesmo formato e estrutura básicos foram mantidos. Todavia, esta é onde a similaridade entre os dois livros termina. Embora suas teses básicas sejam as mesmas, esta edição é um trabalho inteiramente novo. Não somente as deficiências da primeira edição foram corrigidas e algum material omitido, mas muito novo material foi adicionado. Além da obra original ter sido completamente reescrita, a seção histórica foi enormemente expandida com uma ênfase maior nas fontes primárias. A recepção da primeira edição pelos calvinistas foi esperada e predita no epílogo daquela obra. E visto que a literatura sustentando o Calvinismo não cessou repentinamente com a publicação da primeira edição desta obra, foi julgado necessário aumentar significativamente esta defesa bíblica contra as especulações filosóficas e implicações teológicas do Calvinismo: o outro lado do Calvinismo.
[1] William Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1967), p. 313.
[2] Robert L. Summer, An Examination of Tulip (Brownburg: Biblical Evangelism, 1972); Peter S. Ruckman, Hyper-Calvinism (Pensacola: Bible Baptist Bookstore, 1984); John R. Rice, Hyper-Calvinism: a False Doctrine (Murfreesboro: Sword of the Lord Publishers, 1970); Curtis Hutson, Why I Disagree With All Five Points of Calvinism (Murfreesboro: Sword of the Lord Publishers, 1980); James Moffat, Predestination (Lancaster: Charles W. Duty & Sons, n.d.); Donald A. Waite, Calvin’s Error of Limited Atonement (Collingswood: The Bible For Today, 1978); Alger Fitch, Pick The Brighter Tulip (Joplin: College Press Publishing Co., 1993); L. S. Ballard, Election Made Plain, 2a ed. (n.p., n.d.).
[3] J. R. Alexander, The Tulip Doctrine (Texarkana: Bogard Press, 1992); John R. Rice, Predestined for Hell? NO! (Murfreesboro: Sword of the Lord Baptist Bookstore, 1997); George L. Bryson, The Five Points Of Calvinism (Costa Mesa: The Word for Today, 1996); O. Gleen McKinley, Where Two Creeds Meet (Kansas City: Beacon Hill Press, 1959); Max Younce, Not Chosen to Salvation (Madison: by the author, n.d.); James Wilkins, Foreknowledge, Election, Predestination in the Light of Soul-Winning (Mansfield: New Testament Ministries, 1985); Andrew Telford, Subjects of Sovereignty (Boca Raton: pelo autor, 1948); Robert P. Lightner, The Death Christ Died (Des Plains: Regular Baptist Press, 1967); Cornelius R. Stam, Divine Election and Human Responsibility (Chicago: Berean Bible Society, 1994).
[4] Archer C. Wilcox, Messianic Credentials of Jesus the Christ (Burlington: Crown Publications, 1986); Samuel Fisk, Divine Sovereignty and Human Freedom (Neptune: Loizeaux Brothers, 1973); Samuel Fisk, Calvinistic Paths Retraced (Murfreesboro: Biblical Evangelism Press, 1985); Clark H. Pinnock, ed., The Grace of God, The Will of Man (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1989); Clark H. Pinnock, ed., Grace Unlimited (Minneapolis: Bethany House Publishers, 1975); Kent Kelly, Inside the Tulip Controversy (Southern Pines: Calvary Press, 1986); Robert L. Shank, Elect in the Son (Springfield: Westcott Publishers, 1970); Robert L. Shank, Life in the Son, 2nd ed. (Springfield: Westcott Publishers, 1961); Roger T. Forster and V. Paul Marston, God’s Strategy in Human History (Wheaton: Tyndale House Publishers, 1974); William W. Klein, The New Chosen People (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1990).
[6] Ohio Baptist College, 1992-1994 Catalog, p. 8; Norris Bible Baptist Institute, Catálogo 1985-1986, p. 33.
[7] Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1932), p. 1.
[9] David N. Steele e Curtis C. Thomas, The Five Points of Calvinism (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1963), p. 10.
[11] Kenneth G. Talbot e W. Gary Crampton, Calvinism, Hyper-Calvinism and Arminianism (Edmonton: Still Waters Revival Books, 1990), p. 5.
[12] John H. Gerstner, Wrongly Dividing the Word of Truth (Brentwood: Wolgemuth & Hyatt, Publishers, 1991) p. 107.
[14] David J. Engelsma, A Defense of Calvinism as the Gospel (South Holland: The Evangelism Committee, Protestant Reformed Chuch, n.d.), p. 18.
Para reconhecimento de eventuais equívocos foi publicado um livro diferente, que não combate as idéias de João Calvino ( as controversas ) não por argumentar contra elas, o que normalmente é feito por altercadores em algum assunto, mas pelas próprias incoerências internas.
Por Helvécio S. Pereira
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